Poema Pra Você Ficar
Alguns artigos também no Blog: "Cia. castanha"


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14 maio 2017

Mãe

Mãe! Agarro-me à hora que passa e faço
tua minha flauta e meu verso! Tomaste os frutos acuçarados
e deste forma a teus filhos!

Agarro-me à hora que fica e muito tenho
de ti. No teu regaço dormiram poetas, operários, estudantes,
mestres, crianças!! Neles esgotaram teu carinho tua
virtude, tua inocência.

Mãe, é simples falar de ti e gozar da
tua presença que fica mesmo que tu tenhas a ninar sonhos
de anjos.

Disse um dia um poeta que, para ser
grande, tem-se que ser inteiro, nada se deve exagerar ou
excluir. Tu és o todo em cada coisa.

Pões o quanto és no mínimo que fazes!
Mãe, recebe hoje a nossa homenagem, mãe que canta ao portão
para que o filho na madrugada não sinta o medo, o caminho
do trabalho. Mãe que reflete no brilho da marmita
espelhada. Mãe que cose a roupa de seu filho e lhe devolve
o mesmo sorriso incorrigível de complacência.

É de ti, mãe, que hoje queremos falar, é
dos teus gerânios na janela, é dos sóis que se dissolvem
em flores, ocultando as tuas lágrimas e aquecendo o peito
do teu filho.

Hoje, busquei onde agradar-te e apenas
encontrei isto:

Onde estiveres, em que pese à vida ou à
morte, possas ter o melhor de teus agrados

- O Sorriso de Teu Filho.

(autor provável: Vinícius de Moraes)

Guardo esses versos há bastante tempo na memória. Gravados num folder (que se perdeu), presente de meu pai, quando chegava de Barbacena a Carandaí, num dia de compra (Antigamente o pessoal da cidade de Carandaí se deslocava de trem a Barbacena, para fazer suas compras - quando havia galos, noite e quintais... e também trem de passageiros...) .
O poema original estava Ilustrado por uma mulher de longos cabelos com cachos de ouro, com os quais brincava o bebê ao colo...
O folder já se perdeu, não achei qualquer referência ao poema na internet, e , hoje, remexendo na minha papelada, encontrei duas cópias do texto. A autoria provável é de Vinícius de Moraes - aceito retificação ou confirmação da identidade do autor aos prestimosos passantes.
Nesse poema talvez a gênese de meu querer poético, de alguma forma explícito na história e na vida da minha própria MADONA.

(Paulo Rogério)

18 dezembro 2012

Meninas Travessas

Margaridas de Barro- by Alexandra (foto: pessoal)
Meninas travessas*

Aproveite o momento e as manhãs. Lave a alma. Afugente, de vez, essa tristeza imensa e a euforia densa que malferem seus dias de sol. E enquanto nos reinventamos do lado de cá da travessia, entre o riso refratário e a escassa poesia, plante uma flor; margaridas de barro também enternecem. Os bambinos vão sobrevivendo. Cauê transbordou, à madrugada, sonhando, delirando, contando, afirmando que a primavera era anunciada pelos sinos e as estrelas marinhas. De manhã foi brincar com um amiguinho, o pequeno Gabriel. Uns chamavam-no anjo, eis sustinha um adorno secreto na costela. Ele, que somente um beija-flor, talhado em Santa Teresa, ali pertinho, e que habitava uma casinha amarela...

*(postagem primitiva: 2012, com alterações em 2023)
autor: Paulo Rogério às 12/18/2012

14 maio 2011

E você ainda era flor...





















Quando chegou
O crepúsculo dos mascarados, meu amor,
Eu nem pensei
Que eu ainda era rei,
E você ainda era flor.
Chorei, só,
Do exílio em mim.
Só, chorei.
Mas você me veio,
Flor última da tarde
(E eu pensei que as flores eram mortas...),
Reintegrando-me.
Aí sorri,
Desaprendido.
Eu queimei as feridas
Que me destemperavam, sem
Medir meu pranto,
A extensão,
O prejuízo, a perda:
Do cômodo
O amor-próprio que me levou
À rebeldia,
Só isso,
E só.
E você me veio,
Flor última da tarde,
Quando eu pensei que as flores eram mortas...
Só isso.
E só.

(imagem captada do blog joaquinbaldin - ref.:  dia internacional do teatro)


09 agosto 2010

Página Perdida




"Numa manhã de feriado
Eles passaram pela porta da minha casa
Eles
com os seus estandartes
clamando por violências." (Alípio Raimundo Viana Freire)*








Ó paizinho, tua voz enrouquecida,
As tuas mãos infladas do penar,
Murmúrios que agitavam tuas cismas,
As nuvens que pousavam no teu rosto,
O dever de se ser o que se é,
Antes de tudo por amor perfeito,
Nada te perturbava tanto a alma
Como um futuro de que não eras dono...
Laboraste até a última gota
De suor; mas, no entanto, não colheste
Das raríssimas flores que plantaste...
E assim me ensinaste ser a vida...
E eu já não posso ouvir quando mais quero,
Ó paizinho, tua voz enrouquecida...


Foi assim que, mal descobrindo a tamanha beleza da flor do quiabo plantado por meu pai naquele santuário, quintal imenso - que por tempos havia servido de campinho de futebol a meus irmãos mais velhos e colegas - as máquinas ali adentravam: sem mandado de imissão, sem perdão, sem ultimato. Aquele coração calejado de um pai mais que sangrava. Poeta desses sem qualquer escrito, sublimou suas dores ainda por um tempo noutros canteiros. E ali fui eu / apenas seu / aprendiz.**

Mas não queiram nunca compreender essa beleza estranha de uma flor de quiabo segada por uma pá-mecânica...

**Pequena história de um pai de doze filhos, ferroviário, não doutor,
aposentado, plantador, não invasor,
sua hortinha, sua casinha 
adquirida, consentida, construída
num terreno
de outro dono, seu patrão(:),
a Ferrovia, a Central do Brasil
e que, ao final, 
quem diria,
não era,
ou era
o real
o invasor.
Seu doutor,
como apagar?
E o meu campinho roubado?

foto: detalhe de trilho da Estrada de Ferro Central do Brasil - EFCB - em Carandaí-MG, próximo à Estação.

* A citação de Alípio Viana compõe o seu poema "O Desfile da Besta Rompante", da Coletânea Mil Poetas Brasileiros (que também integro), do Instituto da Poesia Internacional (org. Toni Carré), Porto Alegre, 1994.

09 maio 2010

MADONA





Ó minha mãe, na tua casa os ninos
Não precisam chorar para afagá-los;
O teu colo de flor adocicada
Nos alivia as nossas enxaquecas...

Daquele chão de argila modelando
Nosso rostinho mudo as mãos macias...
Nossos trajos tão pobres, tu os cosias
Com toda a prestitude de teus dedos...

Ó minha mãe, na luz das madrugadas
Do caritó dos velos de tua alma
Dormiram na saudade mil poetas...

O mundo aqui revolta e nos vulnera...
Devolvo um doce olhar para tanto afeto,
Pensando as chagas de uma escultura...



(Minha mãe: 79 anos; 3 mães; 12 filhos; uma vida, um livro a cada dia)

04 maio 2010

HÚMUS















Quando eu saía,
Você chegava;
Nenhuma  aflição marcava
Minha utopia.
Amava o desencontro,
Brincava
Poesia.
Quando me fui embora,
Você também. Nem
Planejamos
Uma saudade junta...
Hoje, eu olho,
Na visita
À minha terra,
A estação,  o trem
E o movimento de nadas
Da névoa,  frio,  sol,  amanhecer.
Húmus.
Você, Você, Você, Você, Você,
Nem seu sorriso a me obsolescer
Com uma saudade junta.

19 julho 2009

O grande vencedor














Se eu dependesse da poesia para viver, eu não
Viveria;
Se eu não respirasse poesia para existir, eu só
Viveria,
Eu não seria...

Se eu não contasse com a poesia pra lutar,
E com o Poeta Maior pra me fazer repensar
Que torta paz cruenta é essa
A que insensatos induzem,
Como feita para alvejar civis indefesos,
Eu seria
O maior perdedor,
Eu só venceria...
Eu
não
Celebraria o armistício,
E nem
Dividiria com o inimigo
As alegrias
Do cão vira-lata de companhia...

Na paz ou na guerra,
Nunca é demais relembrar:
As flores
Ainda vencem as masmorras. Afinal,
Os soldados também sabem cultivá-las...

28 junho 2009

A 5ª ventania














Soquei meu coração na mucuta...
- O tempo...
Era inverno. Meu
Pezinho pênsil... Meu
Olhar se
Perde
Na 5ª Ventania...

É que existe um
Jardim...

A professorinha ficou
Tão perto
De mim...
Segundo.
Terceiro.
Último ônibus.
- Perdi o contato
Com a civilização...

Meu corpo
Superior à mentira
Que o possui...

Tão discreta,

A 4ª garota sorriu à janela, ao
Descerrar
Sua doce prisão sasazaki...


Partir é a sina de quem um dia chegou para viver uma grande história!

13 junho 2009

Insanidade urbana







Chove.



A alma de Minas faz-se mais presente ainda...




É distante e é sempre aqui no coração... Inexpugnável.
Mariana.
São Lourenço.
Carandaí.
BH dos edifícios e do lar de minha irmã-confidente. E tantos outros recantos por onde desfila minha insanidade urbana seus pensamentos um momento. Onde vai desaguar o São Francisco já sem referência alguma?

Às vezes tenho a impressão de que me abandonou,
quando somente fico
uma semana e que dói intermitente...
(O preço que ainda pago por arrefecer meu sotaque na ausência de falas minha).

Lá nascem todos os rios...

Os pingos
Ainda lavam a rua...



Adendo: "Carandaí é um município singular, pois pertence a quatro bacias hidrográficas: Rio Grande, Prata, Rio Doce e São Francisco." (fonte - IBGE)

07 junho 2009

O menino e o papagaio














Uma viagem
Ao fundo de mim mesmo,
Onde eu encontre
Os canais de minha inocência...
Estacionar-me
Num dos subterrâneos de meu eu
E conhecer
A imagem metafísica
De meu jardim:
As horas do sonho
Ou a contemplação
Das linhas da mão!
Uma viagem
Ao fundo de minha inquietude
Onde o sinal de minha antecedência
Abrisse o caminho,
O porto,
Para que eu aprendesse
O que era uma vez um homem na vida...

27 maio 2009

PERCURSO

Enquanto, tirana da história,
Minha princesa azul desavisada,
Esfera de tungstênio,
Descrevia o percurso de um homem vazio,
Eu ouço cânticos, cânticos, cânticos
De um pavilhão menor. Mas
Eu ignoro que exista força no mundo
Que me possa amenar.
Estou chorando a minha pequena
Que talvez esteja me aguardando na
Estação de um
Longínquo lugar onde eu fui tão seu,
Mesmo sabendo que o trem
Talvez não vem,
Ou se vem,
Não me contém, contudo,
Contando
Minha tristeza às vezes meus humores.
E o trem que esperas talvez
(Não rias,
Não chores,
Não te morras de frio!)
Não te trará decerto
O meu sorriso velho,
A minha outra face;
Não que eu tenha turdido
O sonho do crepúsculo
No teu dia de inverno:
O fato é que estou morto,
Sou um homem vazio...
(Não rias,
Não chores,
Não te morras de frio!)

02 maio 2009

POEMA DE 7 CORDAS

Eu que,

Com meus pedacinhos,
Com teus pedacinhos,


Pensei
Que iria
Resolver o mundo
Com um poema
De 7 cordas...


Com meus pedacinhos,
Com teus pedacinhos,


E tu
Procuravas
Nas 7
Apenas
Cordas
Serenas
Do poema
Também...


Com meus pedacinhos,
Com teus pedacinhos...

05 fevereiro 2008

PRELÚDIO

Queria que o amanha fosse o agora;
Que a poesia nunca terminasse;
Que o prelúdio que toco em tua honra,
Sua tristeza nunca te abalasse...

Eu queria que o céu fosse só meu,
Mesmo a ensombrar-te nessa hora vasta;
Eu queria que os braços que me enlaçam
Assim me confortassem todo dia...

Eu queria que a página aberta
Dentro dos olhos teus na madrugada
Guardasse insepultos teus carinhos...

Eu queria que a noite em teus cabelos,
Envolvida da lua encarnada,
Não te mostrasse só, em tuas tranças...

20 janeiro 2008

A ONDA E O MAR

Surfar...
Quase ninguém ajuda...
Quase ninguém
Vem ajudar...


... Só eu,
A onda
E o mar...


De repente pensei
Que eu não
Me venceria...
Que onda tão grande
Eu
Minha fantasia!...


Mas não me intimidei:
Peguei a minha onda...

Surfei...

15 dezembro 2007

LONGE DE VOCÊ


Vida é minha verdade
Que não existe
Longe de você.

Sonho também.

Amor e
Amor.

Eu também não vivo
Longe
De você.

Nem meus versos,
Nem meu riso.

Tão jovens,
Ainda haverá
Uma razão
Para os nossos
Mesmo tortos
Ideais?

(Certas coisas de amor eu escrevia
Sem saber que doíam um mundo,
Um mundo
Que eu não pude
Entender...)

OLHOS AMOROSOS

O que falaram frases silenciosas,
O que esconderam olhos amorosos,
O que mentiram fugas simuladas,
O que dormiram sonhos prediletos;

O que machucam flores com um beijo,
O que educam rosas entre espinhos,
O que conspiram anjos de inocência,
O que derramam lágrimas de amor;

O que fizeram nós entre as palavras,
O que disseram frases imperfeitas,
O que veneram olhos silenciosos,
O que apaixonam poetas tão tristonhos...

O que esconderam olhos amorosos...
O que apaixonam poetas tão tristonhos...

01 agosto 2007

MELLOVIA

Quando passo a Mellovia*,
meus olhos

Se enchem de dor.
Viver
E não sair do papel.
Querer ser tua noite,
O teu último acrobata.
Penetrar no teu ventre, como
Um artista
Niilista que quer
A perfeição
Das formas.
O árido prazer de ficar
Proscrito
De tua sedução, eu não
Suportarei
Viver tão só.
Viver
E não sair do papel.
Quando alguém bate à porta,
Meus olhos
Se enchem de dor.
Viver
E não sair
Do papel.
Eu juro
Que te vi aqui.
Mas foi... bobagem... um sonho
Que eu
Sabotei...
Quando desço a Mellovia,
Parece uma canção
Me toca,
meus olhos
Se enchem de dor.
Viver
E não sair do papel...



(* Mellovia: corruptela atribuída por mim  ao nome da Rua Mello Viana, em São Lourenço-MG)

DE TEU BEIJO AZUL

Bruna perdeu o seu brinco na areia,
E entre o seu riso fazer festa
E eu pensar em nada,
A cadência das ondas...
Bruna perdeu os seus olhos que incendiavam
Provavelmente
Meu coração,
Na areia...
E os muitos diamantes na praia salpicados
São formas imprecisas de seu beijo azul.
Adeus, meu poema, Bruna, pétala, cetim!
Pra mim,
Então que te perscruto no brinco que perdeste
Entre conchas marinhas de sunset beach,
Nem encontro teus olhos tristes
Distribuindo formas
De teu beijo azul pra mim.

30 julho 2007

DA CLARIDADE PELA PORTA

Não sei o seu nome,
Mas sei que você
É o prolongamento da claridade pela porta
Aberta;
Comporta
A cegueira momentânea
E a sensação de se estar
Fascinado
Por alguma
Viagem
Diferente.
Naufragar num ricto,
Num riso,
Num olhar
Calmo e terreno!
Ah, seu mar-da-boca-
Céu-oceano-límpido-amor!
Não feche a porta, não
Acabe essa
Cegueira momentânea, essa
Preciosa
Claridade,
Não!

POEMA PRA VOCÊ FICAR





Menina, vou-me embora,
Parto já,
Não olhe na parede
(Desse mais
Tristonho olhar)
O meu poema pra você ficar.
Vou-me embora por uma causa,
Por uma rebeldia nobre,
Mas que não cobre,
Nem a seu sorriso ledo cobre,
Nem a seu
Esquecimento.
Eu que previvo
Nos seus sonhos,
Na
violência castanha de seus olhos,
Sua realeza,
Fortaleza,
Sedução, sua
Mão.
Ah, suas pálpebras e as suas,
As suas mãos me arrastando, abraços.
Menina, vou-me embora,
Parto já,
Por favor, não olhe na parede
(Pedindo)
O meu poema pra você ficar...